quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O MEU ESCONDERIJO SECRETO

 
 
 
Nunca me esqueço das conversas prazerosas que eu tinha com meu pai, ficava conversando com ele por horas ininterruptas e nem nos dávamos conta do tempo que se passava, nós dois tínhamos uma comunhão de almas inigualável; compartilhávamos os mesmos gostos em relação aos filmes, aos livros, as músicas e tantos outros assuntos que nos tocavam e sensibilizavam demasiadamente, chegava ao ponto dele declamar pra mim poesias de Castro Alves, de Olavo Bilac e tantos outros poetas, mas ele não só declamava, mas interpretava ao ponto de eu chorar; sempre quando estávamos juntos criávamos ''o mundo à parte'',  só nosso, ao ponto de minha mãe, muitas vezes, nos interromper e nos indagar...''O quê tanto conversávamos?''
 
Em especial, em uma dessas conversas que tivemos, ele narrou que quando era adolescente, constantemente deixava os seus pais dormirem, pois ele estudava em um colégio ministrado por padres e tinha de acordar muito cedo; e acendia o candeeiro só para ler os seus livros por várias horas...achava incrível o seu amor pela Literatura, e ele também inspirou e despertou o mesmo amor em mim; ele me presenteava com os livros clássicos da Literatura Mundial e  da Literatura Brasileira, e sempre que eu acaba de ler um livro, ele vinha conversar comigo, o que eu achei dele e o que aprendi com a mensagem intrínseca contida nele.
 
Cresci e quando estava cursando a faculdade de Letras na Palma, próximo ao Pelourinho, num casarão com estilo colonial;  eu sempre aproveitava os intervalos entre as aulas e ficava atrás de uma enorme escadaria  no meu esconderijo secreto, num cantinho, que eu podia me isolar de tudo e de todos...lá eu podia reabastecer as minhas forças e ter um élan para continuar a minha lida diária, pois eu trabalhava os dois turnos e vinha direto para a faculdade.
 
''Quando a minha realidade escurece, me escondo, buscando a claridade atrás dos últimos degraus da escada; lá tem uma porta que se abre e eu encontro o meu esconderijo secreto, fico lá dentro, bem quietinha, segura, em paz,  a ler, a sonhar e a meditar.''
 
E foram os livros que me ajudaram a suportar a minha dura realidade e dupla jornada, eu ainda não era cristã, só lia a Bíblia ocasionalmente, sem muito entendê-la, principalmente o Velho Testamento, li os Evangelhos na  preparação e  na celebração de minha primeira comunhão; o Cristianismo praticado por minha família era  irmos as missas aos domingos, irmos ocasionalmente em missas de sétimo dia, em batizados, em casamentos, apenas isso, reconheço essa realidade com muita tristeza e o tempo precioso que eu perdi; pois me pouparia e evitaria tantos dissabores no porvir.
 
Esse hábito de me isolar pra ler continuou, principalmente quando eu convivi com o meu ex-companheiro, pois ele chegava a me dizer que eu tinha ''um mundo só meu''; ele não compartilhava o mesmo amor pelos livros, nem muito menos conversávamos sobre eles; enfim quanto mais ele me dizia isso, mas eu me sentia bem lendo os meus livros, vivendo outras realidades, apreciava ler o escritor Hermann Hesse, pois a maioria dos seus personagens eram muito parecidos comigo, pessoas que viviam isoladas, discriminadas e que muitas vezes não eram compreendidas pelas maioria das pessoas e também enxergavam coisas que as outras não conseguiam enxergar, nem muito menos conseguiam entender.
 
''Nada posso lhe dar senão a oportunidade, o impulso, a chave...eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo...'' (Hermann Hesse)
 
De minha infância até a maturidade sempre busquei o  meu esconderijo secreto, um local que pudesse me sentir bem, em paz comigo mesmo, enfim  ser um pássaro que voa...me libertando das amarras da gaiola.
 
Só quando conheci profundamente a Palavra  de Deus, e me entreguei totalmente a Cristo,  pude perceber que só nos braços do Pai eu poderia me reabastecer, me sentir plena e segura, não precisava mais buscar um local específico, qualquer lugar que estivesse em comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, seria um  lugar sagrado, repleto de paz, refrigério e descanso. E também não precisava mais buscar, com tanta sofreguidão, os livros para me sentir bem e viver outras realidades... Na Bíblia, eu matei a minha sede de saber, de conhecimentos, de me entender profundamente, o sentido da minha existência,  foi nela que encontrei todas as respostas, que eu sempre buscava cada vez mais, sem nunca ter encontrado antes, nem ter sido saciada totalmente.
 
 
''Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
 
Direi do SENHOR: Ele é o  meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei''. Salmos 91:1-2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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