sábado, 9 de julho de 2016

Ó MORTE, NÃO TE ORGULHES






No filme Terra das Sombras, baseado na vida de C.S.Lewis, sua mulher, Joy Davidman, desfruta de um breve período de trégua de seu doloroso câncer. Os dois se deliciam com uma viagem romântica para a Grécia, um interlúdio extraordinário de graça. Conhecendo  o futuro que a aguarda depois  que o câncer novamente se intensificar, Joy diz: ''A dor que vou sentir no futuro faz parte da felicidade que sinto agora. Este é o trato''.
 
Não muito tempo depois, ela morrer. E, numa das cenas finais, C. S. Lewis tenta confortar seu jovem filho, agora órfão de mãe. Lewis agarra-se a uma crença no céu como alguém se afogando se agarra a um salva-vidas; ou talvez como alguém faminto sonha com comida. Ele muda ligeiramente as palavras de Joy: ''A dor que sinto agora faz parte da felicidade que vou sentir no futuro. Este é o trato''.
 
O apóstolo Paulo, que não era nenhum desconhecedor do sofrimento, fazia valer sua fé na necessidade de Deus curar e restaurar o mundo, única solução que poderia trazer justiça a um planeta inclinado para o mal. A biografia de Paulo incluía espancamento, encarceramento, picada de cobra e naufrágio; no entanto, ele suportava tudo com alegria, na espera de um futuro estado melhor: ''Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos [!] estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles'' (2 Co 4.17). Indo mais longe, o apóstolo sem pestanejar admitiu que, excluída a ressurreição, sua pregação e fé eram inúteis. ''Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão'', declarou ele com um toque de melancolia (1 Co 15.19).
 
Li para a comunidade de Newton um poema de Friedrich Rückert, autor alemão que, depois de perder seus dois filhos de escarlatina, escreveu 428 poemas num paroxismo de luto. Gustav Mahler musicou cinco deles em  Kindertotenlieder [Canções sobre a morte de crianças]. ''Agora o sol quer surgir como se nada terrível houvesse acontecido durante a noite'', começa um  deles. Como ousa o sol irromper nas trevas do desespero?!
 
A última das canções de Mahler, dolorosamente sugerindo Sandy Hook, termina com a mesma esperança que trouxe conforto a uma mãe enlutada.
 
 
Neste clima, nesta tempestade,
Eu nunca mandaria meus filhos sair.
Eles foram arrebatados,
E eu não os pude alertar! [...]
 
Nesta clima, nesta tempestade,
Eu nunca teria deixado meus filhos sair.
Eu temia que eles fosse morrer no dia seguinte:
Agora minha ansiedade não adianta mais.
 
Neste clima, nesta tempestade,
Eu nunca teria mandado meus filhos sair.
E eles foram arrebatados,
E eu não os pude alertar!
 
Neste clima, nesta ventania, nesta tempestade,
Descansam como na casa de sua mãe:
Não se assustam com tempestade alguma,
Protegidos pela Mão de Deus. 20
 


20 Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/kindertotenlieder. Acesso em 8 de junho de 2015.
 
 
 
 (Extraído do Livro:  A Pergunta Que Não Quer Calar -- Philip Yancey, Capítulo 4 -- A Cura do mal, p. 120, 121, 122)   







                                                                                                                           

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